sexta-feira, 6 de março de 2015

Palmada NÃO!


É cada vez mais comum encontrarmos pessoas que ainda são favoráveis à palmada corretiva, alegando que esta não é prejudicial à criança, mas que sim, é uma "forma de controlar" o comportamento da mesma.

Mas paremos para pensar:

Se o meu filho aprende tudo o que lhe ensino, se ele aprende tudo o que o rodeia, o que o estarei ensinando ao agredi-lo quando a sua forma de agir extrapola os limites - os MEUS limites - ?

Crianças criadas com grito, gritarão;
Crianças criadas com agressões, agredirão;

Já dizia Carlos Gonzalez, no livro "Besame Mucho":
"Crianças criadas com carinho e respeito são carinhosas e respeitadoras. Não durante todo o tempo, claro, mas durante a maior parte do tempo. Essa é a tendência natural, pois, no ser humano, a cooperação com outros membros do grupo é tão natural como andar e falar. Para conseguir que as crianças se tornem agressivas, temos de empurrá-las de alguma maneira para afastá-las do caminho habitual. Crianças educadas com gritos gritam. Crianças educadas com palmadas também batem nos outros."

Hoje tive o desprazer de ler um texto ridículo Contra a Lei da Palmada onde o autor, erroneamente diz que "palmada não é tortura e não traz danos à criança" alegando que "Pequenos riscos e danos fazem parte da vida, e podem ser justificados por ganhos significativos em outras áreas." e até comparando a palmada a um pneu remoldado de estepe (pior e menos seguro, mas, quando necessário, quebra um galho. Melhor com ele do que sem).

Bom, deixa te contar um segredinho: A palmada NÃO SE FAZ NECESSÁRIA. É extremamente possível criar uma criança sem submetê-la à violência, como mostra Ligia Moreiras Sena, autora do livro Educar Sem Violência e dona do site Cientista Que Virou Mãe. Fácil pode não ser no início, já que a nossa cultura perpetua essa ideia de que "uma palmadinha não faz mal", pior ainda quando dizem "vai doer mais em mim do que em você". MENTIRA! Quem apanha NUNCA esquece!

Existem muitas e boas alternativas aos pais que se interessarem pela educação positiva, em ensinar aos seus filhos que seus erros tem CONSEQUÊNCIAS e não CASTIGOS, ensiná-los que devemos sempre, respeitar o corpo um do outro, deixar que se exercitem o máximo que puderem... Uma hora ou outra as crianças serão agressivas, faz parte do desenvolvimento delas. Mas não vai ser batendo, castigando, gritando, humilhando a criança que você conseguirá trabalhar estes aspectos. 

Ao agredi-la quando ela comete erros, você a está ensinando que, se no futuro ela não conseguir lidar com determinada situação no diálogo, ela pode sim, partir pra violência.

Pais violentos criam filhos violentos.

Sugiro a leitura deste artigo

Agora pensemos o seguinte:

Se você bate em um homem adulto, isso é agressão;
Se você bate em uma mulher adulta, isso é agressão;
Se você bate em uma pessoa idosa, isso é agressão;

Então por que somente a AGRESSÃO à criança, a violação de sua integridade física, é tida como "algo educativo"? Onde se encontra a educação nessa conduta? Onde está o viés educativo em submeter uma criança a um tratamento humilhante?

Não pense tão somente em criar filhos melhores (até porque agredindo-os não estará contribuindo pra isso), pense principalmente, em tornar-se um pai / uma mãe melhor para seus filhos e aprenda de uma vez por todas:

Educação sem violência é possível SIM!

Att.

O Casal


quinta-feira, 5 de março de 2015

Paternidade como opção x Maternidade como obrigação

Recentemente, passando pelo blog papo de acéfalo homem, vi um texto que me revirou as entranhas.

Neste texto, abordava-se o tema "A maternidade é uma furada". Pois bem, antes de mais nada é bom esclarecer que: Para o homem NÃO EXISTE obrigatoriedade da paternidade. NENHUM homem é forçado a ser pai, nenhum homem sofre tanta cobrança de "tem que ser pai logo, senão passa da hora e aí fica mais difícil" como sofre uma mulher com a maternidade compulsória.

Para o homem é muito, mas muito mais fácil dizer: "Não quero ser pai"e simplesmente largar de mão a gestante e uma criança que ELE também gerou, vale também lembrar que nem toda mulher sonha em ser mãe, mas elas são pressionadas a isso:

"Engravidou? Agora cuida! Leve adiante uma gravidez indesejada porque abortar é crime!"

"Nossa, por que você não quer levar adiante essa gravidez? Ser mãe é tão bom!"

"Nossa, mas que coisa mais anti-natural, uma mulher dizer que não quer ser mãe!"

"Vamos, siga com essa gravidez, você pode achar que não é o que você quer agora, mas quando a criança nascer você vai ver como é bom ser mãe."

"Não importa a sua idade, ninguém mandou abrir as pernas, fez porque quis, agora dá seu jeito!"

"O que? Você abortou? Mas isso é um absurdo! Sua assassina! Só pensa em você mesma!"

Mas e o homem? E quando o homem diz que não quer assumir um filho que ELE TAMBÉM GEROU? Quais são as cobranças?

"Ah, você tá certo. Tá muito novinho ainda pra ser pai, melhor aproveitar melhor a vida um pouco mais."

"O que? Aquela mina safada engravidou de ti porque QUIS e agora é você quem tem que assumir?"

"Não, cara, não seja pai agora mesmo não, você tem tanta coisa pela frente ainda."



Pois vejam só! A paternidade, se comparada à maternidade compulsória, em NADA pesa para o homem, em nada MESMO... Mas aí, se ele engravida uma mulher, depois sai correndo com o rabinho entre as pernas e ela resolve pedir a pensão (que ó... é DIREITO da criança e DEVER teu, cara), surgem outras acusações para a mulher do tipo "nossa, mas é uma vadia mesmo, engravidou porque quis e agora quer pedir pensão"... Rapaz, deixa te contar uma coisa, salvo alguns experimentos já bem sucedidos, ninguém gera filho sozinho não, sacomé?

Este mesmo autor também queixou-se de que uma patroa que ele teve, costumava atrasar o salário de outras pessoas da equipe para dar preferência às funcionárias que já eram mães e a coloca numa posição de "protecionista"... Cara, que bom MESMO que ela deu preferência para pagar às funcionárias mães porque elas com certeza precisam muito mais do pagamento delas do que você, que com certeza acabaria com boa parte / todo ele em baladas ou sabe-se lá o que.

E machinho chorão, sabe por que as mulheres que são mães não tem e nem deviam ter uma maior tributação de impostos? Bom, acho que essa é uma perguntinha retórica né?? Basta tu calcular aí a média dos salários e o quanto se gasta quando tem uma ou mais crianças em casa. Veja todos os gastos, todos MESMO:

água, luz, mercado, fralda, roupas, calçados, brinquedos, dentre outras coisas mais... Reflita sobre TODOS esses gastos e diga: Tu acha MESMO que tirar 30% do seu salário para ajudar a suprir estas necessidades mais básicas e outras mais, de uma criança que também foi gerada por ti, será o suficiente? Tenha como base de cálculo que o salário mínimo esteja em torno de R$788,00, tirando 30% dele, tu estará pagando para a mãe um montante de R$236,40 por mês para suprir TODAS as necessidades de uma criança (que inclusive tem mais necessidades do que você) e me diga: Você conseguiria se manter com apenas R$236,40 por mês?? Pois é, pois então NÃO RECLAME!


É por pensamentos semelhantes a esses do "papo de homem", que vemos Bolsonaros atacando mulheres em seus direitos ainda mal estabelecidos. É por pensamentos semelhantes a esses que vemos essa falsa simetria  entre paternidade x maternidade.

Exemplos:

Situação 1:
Pai levar o filho à escola

Reação da sociedade:
Nossa, mas é um exemplo de pai, quanto amor!

Situação 2:
Mãe levar o filho à escola

Reação da sociedade:
Normal. Não tá fazendo mais do que a obrigação.

Situação 3:
Pai dar atenção e amor ao filho

Reação da sociedade:
Que amor! Isso sim é que é ser pai! Coisa linda de se ver!

Situação 4:
Mãe dar atenção e amor ao filho

Reação da sociedade:
Não faz mais que a obrigação. Não quis fazer? Agora tem que cuidar também.


Portanto, enquanto a sociedade continuar estabelecendo, para o homem, a paternidade como opção, e para a mulher, a maternidade como obrigação, continuaremos tendo Bolsonaros dizendo o quanto uma mulher devia ganhar porque "mulheres engravidam" - e pelo visto, ele pensa que engravidam sozinhas, por osmose, whatever - e até mesmo dizendo a outra mulher que "não a estupraria porque ELA não merece".

Resumindo.

Enquanto tivermos uma sociedade machista a cagar ditar regras, veremos muitos machinhos por aí, achando que uma mulher, por querer ter filhos, é uma mulher "menos namorável".

Melhore, gente... Apenas melhorem.

Att.

O Casal











FAZER O BEM SEM OLHAR A QUEM



Fazer o bem, abraçar causas sociais, auxiliar nas políticas públicas já existentes são ações que vemos crescer exponencialmente.

Entre alguns famosos (e não famosos também) isso virou modismo. Sim, modismo!

Modismo, pois não se tem uma consciência crítica, não se vê uma politização nem uma tentativa de se pensar além do que se apresenta.

Recentemente a marca de camisetas do apresentador Luciano Huck (usehuck), que tem “fins sociais” e convida os consumidores a comprar para fazer o bem, lançou uma coleção infantil para o carnaval, com a frase estampada em cores alegres “Vem ni mim que eu tô facin” e para promover, crianças usam o produto como se vê na imagem:
 

Bora lá, galera, a intenção é boa, é por uma boa causa, bem maior, então FODA-SE (me perdoem a expressão, ou não) se isso é incitação à pedofilia, dane-se se isso dá a ideia de que crianças são presas fáceis, dane-se o impacto social que isso pode gerar...

A naturalização de violências está tão enraizada na nossa cultura que as pessoas não param para analisar que justificar isso com “é por um bem maior” ou ainda “é só uma brincadeira”, pode ter efeitos nocivos na sociedade e pior ainda, na base de nossa sociedade: as crianças.

Muito fácil ir para a TV e pregar de bom moço, fazer o bem sem olhar a quem, difícil é ver que fazer o bem sem olhar a quem, pode fazer mal aos que não são vistos.

Agora tracemos um breve histórico do Luciano Huck:


No dia 27 de abril de 2014, o jogador Daniel Alves foi vítima de racismo durante uma partida, na qual torcedores jogaram para ele, uma banana. Ele simplesmente abaixou-se, pegou a banana, comeu e continuou a jogar.
Após este episódio, Luciano Huck, no que parecia ser o auge de sua imbecilidade, apropriou-se de uma luta que NÃO o pertence e lançou em seu site, a camisa da pseudo-campanha promovida por ele “Somos Todos Macacos”:


Já no sábado, dia 13/12/2014, ele novamente nos “presenteia” com a seguinte situação:
Durante uma entrevista com a ex-ginasta Lais Souza, que ficou tetraplégica após um acidente de esqui, a Lais mostrou duas novas tatuagens nas pernas, em referência aos Jogos Olímpicos que havia disputado, ao que Luciano Huck a interroga:
- Doeu [pra fazer]?
- Não. – Respondeu Lais
- Tem essa vantagem, né? Disse ele,  em “tom de brincadeira”, por que né? É SEMPRE apenas uma brincadeira.
- Não. – retrucou a Lais.

Como se não bastassem estas situações mencionadas até o presente momento, eis que o site “usehuck” nos surpreende (ou não) com mais e mais situações de preconceitos naturalizados, sendo elas:

Quando o site resolve achar “legal” pregar e naturalizar a gordofobia:

Ou quando acha super de boa fazer camisas para mulheres com estampas machistas:







Ou quando a marca “usehuck” simplesmente achou O.K. fazer piadinha com a religiosidade negra baiana...
(Clique para ampliar)

E o que dizer então dessa “belíssima” camisa que acha desnecessário o recorte de classe?
(Clique para ampliar)

Fazer o bem sem olhar a quem...  É muito fácil dizer-se em prol de causas sociais quando se está no “pedestal” dos privilégios...  É desonesto dizer-se a favor de causas sociais enquanto se apropria de seus símbolos e / ou lutas... É desonesto dizer-se contra o racismo, ao passo em que grita aos quatro cantos que “Somos Todos Macacos” ou que “Igualdade is the new black”, enquanto se está usufruindo de seus privilégios brancos... É desonesto dizer-se contra qualquer forma de discriminação quando zomba de religiões de matriz africanas, ou quando  diz que “se concentração ganhasse jogo, time do presídio não perdia uma partida”.

Portanto, Luciano e galera da Use Huck: Não adianta dizer-se em prol das pessoas negras, quando se está apropriando da luta delas, isso não é apoio, é apagamento!

Não adianta dizer-se em prol das pessoas de baixa renda quando se está vendendo para outro público, camisas elitistas.

Não adianta dizer-se em prol das mulheres enquanto se fabrica camisas com conteúdo machista E gordofóbico.

Antes de mais nada, se quer MESMO dizer-se em prol de alguma causa de alguma 'minoria', tenha certeza absoluta de que está reconhecendo seu local de fala e seus privilégios.

Att.

O Casal