quinta-feira, 20 de agosto de 2015

AS CRIANÇAS PRATICAM E SOFREM BULLYING: E O QUE NÓS TEMOS A VER COM ISSO?

Recentemente vi algumas pessoas reviverem o post que fiz falando de quando apoiei meu filho contra o bullying que ele havia sofrido na escola por gostar de colorir as unhas, e uma coisa ainda ficou martelando em minha cabeça. A bendita pergunta do tal guia a respeito da minha atitude, onde ele dizia que eu, por agir assim, poderia estar incentivando o bullying contra meu filho.

E não, não me incomodo com essa pergunta por me sentir culpado. Faria tudo de novo, se fosse necessário. Mas me incomoda sim, por ver o quanto esse sentimento culpabilizador é recorrente em toda forma de opressão.

"Isso não aconteceria se você não agisse assim".
"Isso poderia ter sido evitado se você não vestisse tal roupa".
"Você tem que parar de se comportar assim se não quiser que as pessoas tirem sarro de ti".

É simplesmente terrível essa mania que as pessoas tem de tentar justificar o injustificável.

Meu filho foi vítima de bullying, mas eu não vejo a outra criança como culpada, a vejo como mais uma vítima da irresponsabilidade adulta, da mania que os adultos tem de querer incutir na cabeça das crianças o preconceito contra toda e qualquer diversidade, na tentativa de moldar bonequinhos padronizados pela ignorância e pela mente vazia.

Meu filho foi vítima de outra vítima!

É... Crianças podem ser más... Principalmente no que depender dos que as ensinam a maldade.

Veja bem, o Arthur é uma criança com seus 4 anos, no meio de outras crianças mais novas e até mais velhas que ele, e assim como toda criança, o Arthur está sempre querendo explorar e descobrir, seja uma nova brincadeira, seja uma nova palavra, ou até mesmo um novo jeito de usar os velhos brinquedos, enfim... É normal que as crianças se sintam vislumbradas com muitas coisas que para nós, adultos, são corriqueiras, e é igualmente normal que uma criança queira calçar um sapato do papai ou até mesmo, usar o esmalte da mamãe.

Pois bem. A Laura​ tem esmaltes com cores bem vibrantes, cores estas que sempre chamaram a atenção do Arthur, e quando ele a via pintando as unhas, ele queria fazer igual, porque pra ele era legal ver ali, tantas cores disponíveis para colocar nas unha. De início a Laura relutou um pouco, mas não por preconceito, e sim por não ter à época, esmaltes que pudessem ser utilizados em crianças também, mas tão logo ela os arrumou, permitindo que o Arthur pudesse fazer uso das cores em seus dedinhos.

E aí chegamos ao ponto:

Arthur, uma criança de 4 anos quis ir pra escola com suas unhas coloridas e nós permitimos. Quando ele chegou da escola, estava cabisbaixo e tirando o esmalte. Ao ser indagado, relatou que um coleguinha havia o chamado de "menininha". De imediato nos pusemos a explicar que:

• As cores são para todos e todos podem delas fazer uso;
• Não há nada de errado em ser menininha.

E a partir daí, foi que passei a levá-lo e buscá-lo na escola com as minhas unhas pintadas.

Nunca esperei daquele post mais do que uma repercussão entre amigos do face, como sempre tivemos quando relatamos algo do Arthur.

Nunca quis, com aquele post, ganhar uma "estrelinha de bom pai" porque eu não fiz nada além do MÍNIMO pelo meu filho.

Nunca quis ganhar fama com aquele post, pois como disse, não fiz nada além do mínimo e eu jamais faria algo para ganhar fama em cima de uma opressão sofrida pelo meu filho. Ele sempre pintou minhas unhas, e isso pra gente é algo corriqueiro, parte de nossos dias, portanto, essa repercussão foi algo totalmente inesperado para todos nós.

Agora, voltando ao título do texto:

O que nós, adultos, temos a ver com o bullying sofrido / praticado por nossas crianças?

TUDO! Absolutamente TUDO!

Quando ensinamos às nossas crianças que "rosa é cor de menina / bicha / viado", por exemplo, estamos ensinando-as a reforçar estereótipos de gênero e de quebra, estamos ensinando-as a se tornarem adultos extremamente preconceituosos.

Quando ensinamos que "homens não choram", estamos ensinando que, nenhum menino, em hipótese alguma, pode chorar e que fazê-lo é demonstrar fraqueza, que "chorar é coisa de menina" (olha o estereótipo de gênero + um baita machismo de quebra).

Quando ensinamos que "bonecos são para meninos e bonecas para meninas", estamos limitando suas infâncias, impedindo que explorem e descubram e estamos apenas reforçando tudo que já foi mencionado acima.

Se quer mesmo saber o que você tem a ver com o bullying que seu filho sofre / pratica, reveja como é que você reage diante das diversidades e das descobertas de seus filhos, reveja o que diz e como diz... Quem sabe não está na hora de uma desconstrução?